A pastoral orgânica e de conjunto – modelo de ação (modelos de pastoral em torno à renovação do Vaticano II – 5)

15 de Junio de 2018

[Por: Agenor Brighenti]




O Vaticano II, ao reconciliar a Igreja com o mundo moderno, supera radicalmente tanto a pastoral de conservação como a pastoral coletiva, tributários do período de cristandade e neocristandade, respectivamente. Não foi um acontecimento inesperado, mas ansiosamente esperado há décadas, pelo menos para os movimentos que foram os precursores do Vaticano II. Dentre estes, se destacaram: o movimento bíblico, o movimento litúrgico, o movimento catequético, o movimento teológico, o movimento ecumênico, o movimento dos padres operários e a Ação Católica especializada.

 

O Vaticano II, um divisor-de-águas

 

Apesar de, em muitos lugares, ainda haver a presença de uma Igreja com características pré-conciliares, com o Vaticano II dar-se-á a passagem: da cristandade à modernidade; da pastoral de conservação e de neocristandade à pastoral orgânica e de conjunto; do binômio clero-leigos ao binômio comunidade-ministérios; da Igreja-massa à Igreja-comunidade; do eclesiocentrismo ao diálogo ecumênico e inter-religioso; da sacramentalização a uma evangelização integral; da diocese parcela da Igreja universal à Igreja como Igreja de Igrejas Locais; da salvação da alma à libertação integral; de uma Igreja gueto a uma Igreja missionária, etc. 

 

Em lugar da pastoral de conservação e da pastoral coletiva, o Concílio assume a perspectiva apontada pelos movimentos de renovação que o precederam e coloca as bases de outro modelo – a “pastoral orgânica e de conjunto”. Este novo modelo está apoiado em uma nova compreensão da Igreja – a Igreja como Povo de Deus - fruto do resgate da “Igreja Local”, como espaço onde se faz presente “a Igreja toda, ainda que não se constitua em toda a Igreja”, dado que a Igreja é “Igreja de Igrejas” (J.M.D Tillard). 

 

Já antes do Concílio, o Movimento por um Mundo Melhor (MMM) do italiano Pe. Lombardi, já propunha o projeto - “Nova Imagem de Paróquia” (NIP). Mas, com o resgate da Igreja Local e o surgimento da noção de “pastoral orgânica e de conjunto’, passará a promover o projeto – “Nova Imagem de Diocese” (NID). Com isso, por um lado, se estava superando o paroquialismo da pastoral de conservação e, por outro, o universalismo da pastoral coletiva, apoiada em movimentos transnacionais. 

 

Do conjunto de pastorais à pastoral de conjunto

 

A “pastoral orgânica e de conjunto” entende-se como: “orgânica”, na medida em que cada iniciativa, setor ou frente pastoral se constitui num “órgão”, inserido num único “corpo”, que é comunidade eclesial; de “conjunto”, porque as diferentes iniciativas pastorais de uma determinada comunidade eclesial, se inserirem no conjunto das iniciativas da Igreja Local ou da Diocese. Com isso, se passa de um “conjunto de pastorais”, ou seja, de organismos, movimentos e serviços pastorais que atuam de maneira desconsertada e separada uns dos outros, para uma “pastoral de conjunto”, no seio da qual, cada uma destas iniciativas está inserida no conjunto das ações da comunidade eclesial como um todo, perseguindo um objetivo comum. Há uma diversidade de inciativas e ações, mas que convergem para um fim único, que é a edificação do Reino de Deus, no seio da Igreja Local. 

 

A importância dos conselhos e das assembleias de pastoral

 

Este passo só foi possível, graças ao resgate da Igreja Local como o lugar da presença da Igreja toda, ainda que não se constitua em toda a Igreja. A Igreja Local é “porção” e não parte da Igreja universal, dado que esta é Igreja de Igrejas Locais. Por sua vez, a autoconsciência da Igreja como Povo de Deus faz a passagem do binômio clero-leigos para o binômio comunidade-ministérios, constituindo a comunidade eclesial como um todo, o sujeito da pastoral. Consequentemente, nascem as assembleias de pastoral como organismos de planejamento e tomada de decisão, bem como os conselhos e equipes de coordenação, enquanto mecanismos de gestão da vida eclesial, na corresponsabilidade de todos os batizados. 

 

 

No terreno das práticas propriamente ditas, há a passagem do administrativo para o pastoral, procurando responder, antes de tudo, às necessidades da comunidade eclesial, inserida no mundo. Para isso, coloca-se como ponto de partida o conhecimento da realidade das pessoas em seu contexto, condição para uma pastoral de encarnação. A ação pastoral é levada a cabo no âmbito interno da Igreja mas, sobretudo, fora dela, pela inserção dos cristãos, no seio da sociedade, em perspectiva de diálogo e serviço. Rompendo-se com todo dualismo, desenvolve-se uma evangelização integral, que abarca todas as dimensões da pessoa e toda a humanidade. 

 

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