Os puros verão a Deus

31 de Mayo de 2018

[Por: José Neivaldo de Souza]




‘Felizes os puros de coração, porque eles verão a Deus”. O que chama atenção, nesta frase, é a condição proposta por Jesus para que alguém tenha um encontro com Deus. Ele ensinou que a Palavra deve ser interpretada numa perspectiva do amor, mas a frase atribuída ao filósofo e místico Pitágoras me faz pensar: “antes de acolher o amor é preciso purificar o coração, pois um recipiente sujo pode azedar o mel mais doce”. Sendo assim, é importante compreender dois conceitos fundamentais a esta reflexão: “Ver” e “puros de coração”. A essência desta bem-aventurança é: “para ver Deus é preciso um coração puro”. 

 

“Ver”, no sentido bíblico-figurado, indica entendimento ou consciência da transcendência. Muitas vezes, vemos, mas não enxergamos. Como assim? Não compreendemos a realidade que nos envolve e agirmos segundo nossas limitações, um coração bloqueado pelo orgulho e ansiedade. julgamos mal as pessoas e, se não arquitetamos planos perversos para prejudicá-las, as tratamos com indiferença ou com hipocrisia. Quem nunca se sentiu como o salmista (Sl 25,17) que vê no Senhor, Ser supremo e invisível, o seu socorro? “As angústias do meu coração se multiplicaram; liberta-me da minha aflição” 

 

Antoine de Saint Exupéry escreveu em “O Pequeno Príncipe”: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. De fato! A maior cegueira é aquela que não percebe o essencial. Mas, como os puros de coração verão a Deus? Como cristãos, nossa fé indica o caminho. Jesus Cristo disse: quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14,9). Ele fez a experiência do encontro e, por isso, sabia que “Os olhos são a lâmpada do corpo” (Mt 6,22). Com que olhos enxergamos o mundo, as pessoas e as coisas divinas? Com que olhos nos enxergamos? 

 

Jesus veio para devolver a visão. Um cego, tocado pelo Espírito Santo, ao vivenciar o amor, pode ser curado e, apesar de sua deficiência, entenderá que o essencial é a alma curada. Jó compreendeu isso ao ser curado de sua cegueira. Apesar de sua miséria e sofrimento ele expressou a alegria de seu coração: “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42,5). 

 

Jesus veio para devolver a visão aos cegos. Os fariseus que se diziam enxergar muito bem, aos olhos de Jesus, permaneciam cegos perante os próprios pecados (Jo 9,39-41),  Em outras palavras, eles eram moralistas e legalistas; enxergavam os pecados alheios, mas não os próprios, por isso Jesus os chamou de Hipócritas: “por que repara o cisco no olho do seu irmão e não vê a trave no seu olho?” (Mt 7,1). Agindo assim, os fariseus arquitetavam planos perversos em seu coração incitando o preconceito e a intolerância. 

 

“Puros de coração” quer dizer limpos, no sentido literal do termo. Aqui Jesus trata da pureza de forma metafórica: inocente e justo. O coração, sede dos sentimentos e dos afetos, é o centro dos desejos. O que deseja o nosso coração? O salmista deseja: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito justo” (Sl 51,10). Pureza de coração está ligada à verdade e ao mandamento do amor: “eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei” (Jo 13,34). Para ter um encontro com Deus, através de Jesus, é preciso inclinar o coração para a verdade e o amor; é preciso purificar o coração da ganância, da inveja e do engano. Há uma fábula de Esopo que trata deste tema e que nos ajuda a compreender o que é ser puro. 

 

Um homem passou pelo Santuário de Hermes, protetor dos viajantes, e fez uma promessa: se encontrasse algo que fosse do seu interesse ofertaria a metade à divindade. Pelo caminho achou um saco que lhe parecia ser ouro ou prata, mas ao abrir, viu que estava cheio de amêndoas e tâmaras. Comeu-as todas. Depois, ao voltar, se dirigiu ao santuário e depositou as cascas das amêndoas e os caroços das tâmaras e disse: “conforme o prometido, eis aqui sobre o teu altar uma parte do achado: a metade da parte de dentro e a metade da parte de fora”.

 

Um coração ambicioso, que gosta de levar vantagens em tudo, cultiva orgulho, angustia e aflição. Dificilmente alguém, com este comportamento, fará a experiência do encontro, pois está cego à realidade divina. A verdadeira vantagem é fugir das falsas vantagens que o mundo oferece e buscar a verdade e o amor, ainda que as dificuldades apareçam por conta das renuncias e sacrificios. O Salmo 19,8 nos ajuda a refletir melhor sobre a frase de Jesus no Monte: “Os preceitos do Senhor são justos e alegram o coração. Seus mandamentos são puros e trazem luz aos olhos”. 

 

 

Imagem: http://vivoenarmonia.cl/posts/el-principito-lo-esencial-es-invisible-a-los-ojos/ 

 

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