Pastoral de conservação - modelo de ação (modelos de pastoral em torno à renovação do Vaticano II – 1)

06 de Abril de 2018

[Por: Agenor Brighenti]




Aparecida resgatou a reforma do Concílio Vaticano II, que estava estagnada, assim como resgatou também Medellín (1968) e inspirou o Papa Francisco a publicar a Exortação Evangelii Gaudium, um documento que conclama a Igreja do mundo inteiro a uma profunda conversão missionária. Neste contexto, numa série de dez pequenos artigos, é oportuno ver como está a Igreja hoje neste processo de reforma, tendo passado já cinquenta anos. Para isso, vamos ver que “modelos de ação” e que “modelos eclesiológicos” o Concílio superou, assim como que modelos, tanto o Vaticano II como a Igreja na América Latina propuseram, para responder aos novos desafios de nosso tempo. 

 

O modo de ser Igreja da Idade Média

 

Na década de 1960, quando o Vaticano II foi realizado, estavam vigentes dois modelos de pastoral. Ambos foram superados pela renovação conciliar: a pastoral de conservação e a pastoral coletiva. O primeiro é do período de cristandade e, o segundo, do período de neocristandade. Comecemos pela pastoral de conservação, caracterizando seu modelo de ação. A visão de Igreja deste modelo apresentaremos no próximo artigo. 

 

A pastoral de conservação, assim denominada por Medellín (Med 6,1) e citada por Aparecida (DAp 370), é um modelo de pastoral, que funciona centralizado no padre e na paróquia e, no seio desta, na Igreja matriz. Ela vem de longe. Parte dela vem de antes do Concílio de Trento (1545-1563): uma prática da fé de cunho devocional, centrada no culto aos santos e composta de procissões, romarias, novenas, milagres e promessas. São práticas típicas do catolicismo popular medieval e que chegou em nosso país com a colonização portuguesa. Como naquela época havia muitos poucos padres, trata-se de um catolicismo de “de muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre” (Riolando Azzi). Estranhamente, procissões, romarias, novenas... ao contrário daquela época, hoje, contam com “muito padre”.

 

Além destas práticas medievais, a outra parte da pastoral de conservação vem da reforma do Concílio de Trento, que tentou corrigir abusos desta religiosidade milagreira, criticada por Lutero. É a vivência da vida cristã em torno do padre, baseada na recepção dos sacramentos e na observância dos mandamentos da Igreja. 

 

Conservar a fé dos supostamente evangelizados

 

Na pastoral de conservação, se pressupõe que os cristãos estejam evangelizados, quando na realidade trata-se de católicos não convertidos, sem a experiência de um encontro pessoal com Jesus Cristo. Consequentemente, não há processos de iniciação cristã, catecumenato ou catequese permanente. A recepção dos sacramentos salva por si só, concebidos e acolhidos como “remédio” ou “vacina espiritual”. Neste modelo, a paróquia é territorial e, nela, em lugar de fiéis, na prática, há clientes que acorrem esporadicamente ao templo, para receber certos bens espirituais fornecidos pelo clero. 

 

Na pastoral de conservação: o administrativo predomina sobre o pastoral (um bom pároco é um bom administrador, não necessariamente pastor); a sacramentalização predomina sobre a evangelização (o trabalho do padre é rezar missa e administrar os demais sacramentos e cabe aos leigos recebê-los, passivamente); a quantidade predomina sobre a qualidade da fé (se mede o êxito da pastoral pelo número de comunhões, confissões, batismos, casamentos); a pároco predomina sobre o bispo (sem pastoral de conjunto, o padre é bispo em sua paróquia, quando não papa); o padre predomina sobre o leigo (o leigo é um colaborador do padre, ajudante); enfim, massa predomina sobre a comunidade (em lugar de multiplicar o número das pequenas comunidades, o padre procura aumentar o tamanho do templo). 

 

Todos estes são elementos que caracterizam um velho e caduco modelo de evangelização, infelizmente, ainda muito presente em um mundo que não é mais aquele medieval, pré-científico e teocrático. 

 

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