A banalidade do mal

29 de Marzo de 2018

[Por: José Neivaldo de Souza]




 

Artigo VII: Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo. 

Tiago de Melo

 

Semana santa! O Espirito nos motiva, diante das notícias que nos chegam todos os dias, a formar um pensamento crítico. Somos bombardeados cotidianamente por ideologia de ódio e intolerância. O que fazer? De um lado, os fatos, e do outro, pessoas que ouvem e veem os acontecimentos e precisam lidar com eles. Somos expectadores diante de um cenário marcado por violência e violação dos direitos humanos. Acostumamos com o mal e, muitas vezes, ficamos apáticos aceitando suas orientações ou reagimos a ele procurando eliminá-lo com as mesmas armas com as quais nos ataca. São características de uma “sociedade de massa” onde o mal aparece sempre com a máscara do bem.  

 

Uma sociedade de “massa”, envolvida e conformada a uma ideologia elitista, age como um saco de pancada: de um lado recebe e amortiza toda força que vem de fora e, do outro, reage voltando-se com a mesma força contra o golpeador. No primeiro caso, observou Jean Baudrillard, sociólogo francês, que a “massa”, enquanto corpo, amortiza e neutraliza forças políticas e sociais, tornando-se apática ou inerte, aceitando como suas as decisões de outrem. 

 

Esta analogia não é nova. Jesus comparou a sociedade da época a uma massa de pão. O fermento penetra a massa e a faz crescer.  Se o fermento for bom a massa ficará levedada e o pão sairá saudável. Se o fermento for ruim, a massa toda será prejudicada e o pão não crescerá. No Evangelho de Mateus, Jesus mostra a força do fermento.  Ao ensinar sobre o Reino de Deus conta que uma mulher misturou fermento numa grande quantidade de farinha e toda massa ficou levedada (Mt 13,33). O fermento é analogia do amor que forma uma sociedade mais fraterna, tolerante ao diferente e zelosa pela vida

 

Em outra passagem Jesus alerta seus discípulos quanto ao fermento dos fariseus e saduceus (MT 16,11;12). O fermento aqui simboliza a doutrina do ódio, da intolerância e da morte. Ele contamina as pessoas e as fazem se conformar e agir, sem consciência, segundo uma ideologia qualquer. Jesus vai prepara os seus discípulos quanto ao seu sofrimento em Jerusalém. Manipulada pelos poder político-religioso, a “massa” condena Jesus à morte de cruz, mas, na ressurreição, a vida vence a morte; o amor vence o ódio.   

 

Quem tem direito à vida? A decisão sobre a dignidade humana deve ser privilégio de uma elite que decide quem pode viver ou morrer? Temos dificuldade de formar uma consciência crítica tornando-nos insensíveis ao sofrimento humano. O Pensador contemporâneo Theodor W. Adorno observava que numa “sociedade de massa”, o indivíduo se torna insensível à realidade. Também Hannah Arendt, filósofa judia, confirmou isso ao trazer o conceito de “banalidade do mal”. Segundo ela, numa “sociedade de massa” as pessoas aceitam e executam ordens sem pensar de forma crítica nos valores que humanizam. 

 

Diante desta “sociedade de massa” e da “banalidade do mal” cabe-nos recordar, continuamente, o texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, redigido, após a Segunda Guerra Mundial, pela Assembleia da ONU em 1948. É uma bela carta a ser lida e refletida nas instituições de ensino de todas as nações. Reza o Artigo 1°: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. É o Espírito de amor que nos faz enxergar um novo mundo possível e não abrir mão dele. 

 

Quanto mais alguém abdica do pensamento crítico, mais cego se torna aos abusos, contribuindo assim para que o mal seja banalizado, como dizia Hannah Arendt. Certa ela! Com que olhar enxergamos as injustiças? Clarice Lispector sofria por enxergar verdades que uma multidão ignorava. Nesta Semana santa não basta seguir Jesus é preciso ver o que ele viu e revelou.    

 

 

Imagem: https://misionesplural.net/2016/05/16/bordon-y-la-banalizacion-del-mal/ 

 

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