Vencer o desânimo

09 de Marzo de 2018

[Por: José Neivaldo de Souza]




Deparo-me com o desânimo! Tenho presenciado isso em amigos e pessoas que amo. Alguns dão o nome de depressão, outros o denominam “vazio”. Seja o que for, chamo este sentimento de desânimo e não o coloco no mesmo nível da preguiça ou vadiagem. 

 

A palavra latina “anima” quer dizer alma ou vida. O prefixo “des” é usado como negação, portanto desânimo diz respeito a uma situação onde não há alma. O desânimo paralisa a vida ofuscando sua dinâmica. Ele aponta para um cansaço e, aqueles que estão nesta situação, dependendo o grau, se veem sem forças para lutar, podendo até desistir de tudo. O desânimo pode vir de fora ou do interior de cada pessoa.

 

O desânimo que vem de fora. Em seu livro: Histórias da sabedoria do povo, Carmem Seib conta sobre “a Competição dos sapos”. Eles tinham que subir ao topo de uma torre e, para animá-los, havia uma torcida. Foi dada a largada e começaram a subir. Vendo a dificuldade dos competidores, a torcida começou a vaiá-los. Desanimados, foram aos poucos abandonando a prova, exceto um que chegara ao final. Quando lhe perguntaram como havia terminado a competição, viram que o vencedor era surdo. Palavras negativas e sem esperança podem levar ao desânimo. Muitas vezes é melhor fechar os ouvidos às vozes que nos desanimam e seguir o nosso coração.  

 

O desânimo que vem de dentro. Há alguns dias não tenho animo para escrever e olha que, jogar com as palavras e me expressar através de textos, é algo divertido para mim. Insisto comigo, mas sinto que algo não vai bem. Assim como Clarice Lispector, ao falar do seu momento de desânimo, ando meio desolado: “é que ao escrever, por mais que me expresse, tenho a sensação de nunca na verdade ter-me expressado”.

 

Diferente da competição dos sapos, tenho uma torcida que me anima, mas preciso estar surdo ao estranho que me invade e, sem pedir licença, habita em mim e me deixa prostrado. Apesar das circunstâncias externas há uma guerra interna a qual é preciso vencer. 

 

Lembro Dom Quixote, de Miguel Cervantes, cavaleiro solitário na luta contra os moinhos de vento. Aprendo com este fidalgo que a maior batalha é invisível e se trava na alma de cada ser humano. É preciso vencer nas derrotas. A vitória está em saber que apesar da derrota, vergonhoso é não ter enfrentado a luta. 

 

Sun Tzu em “A arte da Guerra” nos ensina que na angústia pela vitória imediata podemos colocar em risco o pouco que conquistamos. Isso me lembra o evangelho de Marcos (8,36): “de que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” As palavras de Jesus são atuais. O ser humano aprendeu que é preciso dominar a natureza e ignorou o fato de que o domínio de si mesmo é que faz um mundo melhor, como observou Albert Schweitzer.  

 

Não podemos sucumbir ao desânimo. A batalha contra os nossos medos é a primeira a ser vencida em nós. Medo de não ser aceito pelos outros; medo de não conseguir vencer pelas próprias forças. Concordo com Nietzsche: ousadia é dominar a si próprio a tal ponto de poder despregar os olhos de si e enxergar os outros. Esta batalha não deve ser angustiante ou ansiosa. Com paciência e ternura saberemos o momento certo de avançar e recuar. 

 

 

Imagem: http://www.universal.org.ar/como-vencer-el-desanimo-en-la-vida-amorosa

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