19 de Enero de 2018
[Por: Eduardo Hoornaert]
Nos dos textos precedentes vimos que a violência está atuando onde menos se espera. Há coisa mais pacífica que o envio de fotos e mensagens entre familiares e amigos pelo Facebook? O Facebook não é um espaço de ‘paz e amor’ num mundo violento? Nós, que pensamos assim, fazemos bem em saber que, recentemente, Mark Zuckerberg, fundador e coordenador do Facebook, redigiu um Manifesto de 6 mil palavras, intitulado ‘Construir a Comunidade Global’... pelo Facebook. Zuckerberg acha que o Facebook tem a sublime vocação de substituir os atuais ‘quatro’ poderes públicos (legislativo, judiciário, executivo, mídia) - que, via de regra, não se entendem - por um único instrumento pacífico, capaz de ditar o destino do mundo: o Facebook.
Eis como o fundador do Facebook argumenta. Cito:
‘O Facebook propõe-se a construir uma comunidade global. Nosso sucesso não se baseia apenas em se podemos capturar vídeos e compartilhá-los com amigos. É sobre se estamos construindo uma comunidade que ajude a nos manter seguros, que previna danos, ajude nas crises e na posterior reconstrução. Nenhuma nação pode resolver esses problemas sozinha. Os atuais sistemas da humanidade são insuficientes. Esperei muito por organizações e iniciativas para construir ferramentas de saúde e segurança por meio da tecnologia e fiquei surpreso por quão pouco foi tentado. Há uma oportunidade real de construir uma infraestrutura de segurança global e direcionei o Facebook para investir mais recursos para atender a essa necessidade’.
O que você acha dessas afirmações? Não há cheiro de violência na alusão à ‘segurança global’, tema que evoca as mais violentas intervenções políticas de nosso tempo (ditadura militar)? Não cheira à violência a ideia de se monopolizar o acesso à informação?
Zuckerberg não se propõe apenas a facilitar relações sociais e comunicações, ele pretende moldá-las e administrá-las conforme a visão da equipe que ele dirige. Uma equipe que, como se sabe, não tem de prestar contas à nenhuma instituição democrática, não paga os devidos impostos etc. O Facebook de Zuckerberg paira acima das leis. Isso não é violência? O perigo maior consiste no fato que muitas pessoas (no Brasil 55% dos entrevistados) simplesmente identificam Facebook com Internet. Ingenuamente, a maioria dos brasileiros enxerga no Facebook um serviço gratuito e benéfico, acima de qualquer suspeita. Mas quem lê com atenção o Manifesto de Zuckerberg, sabe que ele se apresenta com uma agenda política que visa moldar o mundo a seu gosto e a um ideal tecnocrático que, tanto quanto o autoritarismo racista de Trump, cheira mal.
O Facebook não é neutro. Quem acredita na democracia terá de desafiar, cedo ou tarde, esse colosso e buscar os meios de tirar do monopólio privado os meios de ditar a opinião e o interesse público.
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