Esperança em tempos de desespero

07 de Diciembre de 2017

[Por: José Neivaldo de Souza]




Mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros

 (Cora Coralina).

 

Que belas palavras! Mais esperança e menos tristeza, como aconselha nossa poetiza. Para mim o mês de dezembro exala alegria e isso graças à tradição cristã que aguarda, com expectativa, a “vinda do Senhor”. Remonta a um passado distante que, pela ação espiritual, torna-se muito presente nesta cultura. É memória de um passado extraordinário. Em meio à indiferença política e religiosa uma comunidade escolhe uma utopia e dedica-se a ela: Reino de Deus. É um grupo que aguarda um mundo transformado, uma grande "casa comum", onde reinam justiça e amor; um broto que estende sua folhagem e dá muitos frutos e os testemunhos bíblicos revelam este milagre.

 

O profeta Isaias, no século V a.C, foi uma voz dos hebreus, pobres exilados na Babilônia. Ele manteve acesa a chama da esperança de retornar à terra perdida e reconstruir o que havia sido destruído pelo Império babilônico: o templo e a tradição. Ao voltar do exilio, sob um decreto de Ciro, rei da Persa, juntamente com aquele grupo, ele encontra uma Jerusalém arrasada, devastada. Muita pobreza, violência, enfermidades e falta de esperança; não havia ficado pedra sobre pedra. Para reconstruir Jerusalém precisaria muita paciência e empenho. Havia um enraizado pessimismo que favorecia os ataques inimigos. Reinava o desanimo, a desesperança e a indiferença social. 

 

Ao Olhar para alto, Isaías clama a Deus que liberte Israel, não mais do domínio babilônico, mas de si mesmo. O maior exílio está na própria terra. Quem nunca se sentiu exilado em si mesmo, desacreditado e sem esperança: “Porque Senhor, nos deixou desviar dos teus caminhos? Porque endureceu o nosso coração para que não te temamos?” (Is 63,17). Os profetas Zacarias e Ageu, à luz desta invocação, e certos da intervenção divina, colocaram a “mão na massa” e convocaram o povo a reconstruir o santuário de onde brotaria a libertação e a unidade (Zc 6,12-13).  

 

A esperança desta libertação e unidade reanimou Israel e pôde reconstruir o templo e reorganizar suas leis. Apesar do domínio dos Persas, e logo em seguida dos gregos e romanos, havia um grupo que conseguiu viver uma fé que ultrapassa os poderes e a riqueza deste mundo. 

 

Quinhentos anos depois dos profetas, Jesus de Nazaré convida um pequeno grupo a enxergar a opressão, e com esperança, reconstruir uma nova humanidade. Convida a todos a serem vigilantes, pois o inimigo está à porta e, na maioria das vezes, são líderes manipulados e com ânsia de poder e riqueza.     

 

Ensinando, através de parábolas ou alegoria, Jesus fala do Reino de Deus como um “broto” de figueira que encheria os ramos de folhagem e produziria muitos frutos; uma nova estação: “Aprendei, pois, a parábola da figueira: Quando já o seu ramo se torna tenro, e brota folhas, bem sabeis que já está próximo o verão” (Mc 13,28). Este “broto” é o novo Israel, sem medo e liberto de si mesmo, deve anunciar um tempo de justiça e amor. Em outra passagem, nesta mesma direção, ele fala de si mesmo: o dono da casa confia seu patrimônio aos servos para que seja cuidado. Sem dizer a hora e o dia em que voltaria, os servos deveriam aguardá-lo, seguros do serviço prestado (Mc 13, 34-35). O próprio Jesus confia aos discípulos a tarefa de construção do Reino de Deus: uma nova criação, mais humana, fraterna e justa. “O Senhor vem” garante o próprio Jesus e esta certeza deve animar os discípulos diante da crise e confusão existenciais. 

 

É um quadro que não difere significativamente daquilo que é a vida de tantos homens e mulheres de nossa época. A Igreja cristã, à Luz deste mesmo Espírito, é chamada a não perder a esperança e manter-se vigilante, agindo com atenção aos sinais de justiça e amor. A palavra é “vigilância”: o verdadeiro discípulo deve estar sempre “vigilante”, principalmente em relação a si mesmo. O que a igreja do Senhor tem feito neste mundo sem esperança para que “nossa casa comum” seja uma nova criação? Esta tradição nos traz uma ética que não compactua com as ambições deste mundo. É uma nova ética que leva a pessoa a confrontar consigo mesmo em busca de novos caminhos que tragam sentido à vida. 

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