27 de Noviembre de 2017
[Por: Leonardo Boff]
Por mais críticas que se façam e se tenha que fazer ao PT, com ele ocorreu algo inédito na história política do país. Alguém do andar de baixo conseguiu furar a blindagem que as classes do poder, da comunicação e do dinheiro, por séculos, montaram, para inviabilizar políticas públicas em benefício de milhões de empobrecidos.
As elites endinheiradas nunca aceitaram um operário, por voto popular, que chegasse ao poder central. É verdade que elas também se beneficiaram, pois a natureza de sua acumulação, uma das mais altas do mundo, sequer foi tocada. Mas permanecia aquele espinho na política: aceitar que o lugar que supunham ser seu, fosse ocupado por alguém vindo da grande tribulação imposta aos pobres, negros, indígenas, operarios durante todo o tempo da existência do Brasil. Seu nome é Luiz Inácio Lula da Silva.
Agora esta elite despertou. Deu-se conta de que estas políticas de inclusão social poderiam se consolidar e modificar a lógica de sua abusiva acumulação. Como é conhecido pelos historiadores que leem a nossa história a partir das vítimas, como é o caso do mulato Capistrano de Abreu, do acadêmico José Honório Rodrigues e do sociólogo Jessé Souza entre outros, diferente da história oficial, sempre escrita por mão branca, todas as vezes que as classes subalternas ergueram a cabeça, buscando melhorar a vida, esta cabeça foi logo golpeada e os pobres reconduzidos à margem, de onde nunca deveriam ter saído.
A violência nas várias fases de nossa história, foi sempre severa para com os pobres e negros e em alguns casos, assassina. A conciliação das classes opulentas e à revelia dos reclamos populares, sempre detiveram o poder e os meios de controle e repressão em seu próprio benefício.
Não é diferente no atual golpe jurídico-parlamentar que injustamente apeou a Presidenta Dilma Rousseff. O golpe não precisou mais de cassetetes e de tanques. Bastou aliciar as elites endinheiradas, as 270 mil pessoas (menos de 1% da população) que controlam mais da metade do fluxo financeiro do país, associadas aos meios massivos de comunicação, claramente golpistas e anti-populares, para assaltar o poder de Estado e a partir daí fazer as reformas que os beneficiam absurdamente.
O Brasil ocupa uma posição importante no quadro geopolítico mundial. É a sétima economia do mundo, controla o Atlântico Sul e está voltada para a África. Esta área, na estratégia do Pentágono que zela pela segurança do Império norte-americano, estava a descoberto. Havia aí um país, chave para a economia futura, baseada na ecologia, que tentava conduzir um projeto de nação autônomo e soberano, mas aberto à nova fase planetária da humanidade. Precisava ser controlado. A Quarta Frota que fora suspensa em 1950, voltou a partir dos anos 80/90 a ser ativada com todo um arsenal bélico, capaz de destruir qualquer país oponente. Ela vigia especialmente a zona do pré-sal, onde se encontram as jazidas de petróleo e gás mais promissoras do planeta.
Segundo a própria estratégia do Pentágono, bem estudada pelo recém falecido Moniz Bandeira e denunciada nos EUA por Noam Chomsky, era decisivo desestabilizar os governos progressistas, desfigurar suas lideranças, desmoralizar a política como o mundo do sujo e do corrupto e forçar a diminuição do Estado em favor da expansão do mercado, o verdadeiro condutor dos destinos do país. Pertence à esta estratégia difundir o ódio ao pobre, ao negro e aos opositores deste projeto entreguista.
Pois este é o projeto das elites do atraso (segundo Jessé Souza). Não querem um projeto de nação, mas uma incorporação, mesmo subalterna, ao projeto imperial. Aceitam sem maiores reticências a sua recolonização para serem meros exportadores de commodities. Argumentam: por que termos uma indústria própria e um caminho próprio para o desenvolvimento, se tudo já está construído e montado pelas forças que dominam o mundo? O capital não tem pátria, apenas interesses. Estas elites do atraso colocam-se do lado do Império e de seus interesses globais.
Atrás da desmontagem dos avanços sociais com a transferência da riqueza popular para os já super-ricos, estão estas elites do atraso. Bem intuía, pesaroso, Celso Furtado no entardecer de sua vida, que as forças contrárias à construção do Brasil como nação forte, vigorosa e ecumênica, iriam triunfar e destarte interromper o nosso processo de refundação do Brasil.
Nas próximas eleições devemos derrotar democraticamente estas elites do atraso, porque não mostram nenhum interesse pelo país e pelo povo, apenas como oportunidade de negócios. Se triunfarem, poderão levar outros países latino-americanos para o mesmo caminho fatal. Teríamos sociedades altamente controladas, ricas por um lado e paupérrimas de outro, tremendo de medo da violência. Seríamos ainda positivamente cordiais?
Leonardo Boff é articulista do JB on line e escreveu: Brasil: concluir a refundação ou prolongar a dependência? a sair em breve pela Vozes de Petrópolis.
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