16 de Noviembre de 2017
[Por: Agenor Brighenti]
Uma das ambiguidades de nosso tempo é, por um lado, uma economia de rapinagem, que depreda a natureza e coisifica o ser humano e, por outro, a preocupação crescente com a ecologia, que tem merecido uma Encíclica do papa Francisco sobre o tema. A consciência da problemática ecológica ou a percepção de que a natureza está enferma pelo resultado de um determinado modelo de desenvolvimento, é relativamente recente, em comparação com os danos que o mesmo vem provocando há mais de um século.
O conhecido “Clube de Roma”, um grupo de pessoas ilustres, que se reúne para debater assuntos relacionados à política, à economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, foi fundado em 1966 e tornou-se conhecido a partir de 1972, com a publicação do relatório intitulado - Os Limites do Crescimento.
Já naquele momento, soava um sinal de alarme frente a um modelo econômico destrutivo da natureza e a um modo de vida envolto na espiral de um crescente consumismo, que tudo transforma em lixo. “Fere os filhos da terra” (indígena apache), a devastação ambiental, a destruição da biodiversidade, a contaminação do solo, das águas e do ar, enfim, o aquecimento global, que ameaça a vida humana e seus ecossistemas.
Cristianismo e ecologia
Há quem diga que o cristianismo, apesar da riqueza da revelação bíblica e de grandes santos amantes da natureza como Francisco de Assis, historicamente, é uma religião de escassa sensibilidade ecológica. Em parte, é verdade. Entretanto, especialmente a partir da nova sensibilidade que se instalou na Igreja com o pontificado de João XXIII, o magistério social pontifício fez da ecologia uma preocupação e um espaço de atuação obrigatório para os cristãos.
A partir de então, em diálogo com as ciências da vida e da natureza, o magistério social da Igreja tem feito análises e diagnósticos, bem como oferecido diretrizes de ação, capazes de fazer dos cristãos, atores aptos a contribuir com uma ecologia integral, imperativo para salvaguardar a “casa comum” e promover uma vida digna para seus moradores, especialmente os mais pobres.
Recentemente, o papa Francisco, na Laudato Si’, faz um persuasivo convite a toda a humanidade, especialmente aos cristãos, a tomarem consciência de que a relação do ser humano com a natureza é um elemento constitutivo de sua identidade e que a vocação de “guardar e cultivar” a obra da Criação, fonte de vida para todos, é um dom e uma tarefa urgente.
Crise ecológica e modelo econômico
Há uma estreita relação entre crise ecológica e modelo econômico. O papa Paulo VI, na Octogésima adveniens (1971), adverte:
“de um momento para o outro, o homem toma consciência que por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, começa a correr o risco de a destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação. Não só o ambiente material já se torna uma ameaça permanente –poluições e resíduos, novas doenças, poder destruidor absoluto– como o quadro humano que o homem não consegue dominar, criando assim, para o dia de amanhã um ambiente global, que poderá tornar-se insuportável” (n. 21).
Nesta perspectiva, o papa João Paulo II, na Sollicitudo Rei Socialis (1987), frisa que
“uma justa concepção do desenvolvimento não pode prescindir do respeito pelos seres que formam a natureza visível. [...] Não se pode fazer, impunemente, uso das diversas categorias de seres, vivos ou inanimados – animais, plantas, elementos naturais – a bel prazer, segundo as próprias necessidades econômicas”.
O desenvolvimento deve ser condicionado às possibilidades de renovação dos recursos naturais, baseado
“na constatação mais urgente das limitações dos recursos naturais, alguns dos quais não renováveis. Usá-los como se fossem inesgotáveis, com domínio absoluto, põe seriamente em perigo sua disponibilidade não só para a geração presente, mas, sobretudo, para as futuras gerações” (n. 34).
Ecologia e novo estilo de vida
Para afrontar a crise ecológica, além da mudança do modelo econômico, é necessário igualmente uma mudança no estilo de vida. Para o papa Bento XVI, tal como chama a atenção em Caritas in Veritate (2009), dado que “o modo como o homem trata o ambiente influi sobre o modo como trata a si mesmo, e vice-versa”, é preciso fazer “uma revisão séria do estilo de vida moderno, inclinado ao hedonismo e ao consumismo, indiferente aos danos que disso provém” (n. 51).
O papa Francisco, na Laudato Si’ (2015), advogando por uma ecologia integral, frisa que “para falar em autêntico progresso será preciso verificar que se produza uma melhoria global na qualidade da vida humana” (n. 147). Comprometer-se com o bem comum, significa fazer escolhas solidárias com base em “uma opção preferencial pelos mais pobres” (n. 158). Esta é a melhor maneira de deixar um mundo sustentável às gerações futuras (n. 159), não com proclamas, mas através de um compromisso de cuidado dos pobres de hoje (n. 162).
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