Precisamos continuar a falar sobre violência

15 de Noviembre de 2017

[Por: Eduardo Hoornaert]




Ao iniciar, na Ameríndia, esta série de breves textos em torno do tema ‘cristianismo e violência’, escrevi que o tema é vasto e tem muitos desdobramentos. Acrescentei que espero que nós dois, você leitor e eu, possamos entrar num diálogo fértil. 

 

É nesse sentido que iniciei esta série de pequenos textos com uma reflexão sobre três princípios que regem o comportamento das pessoas e das sociedades a respeito do tema da violência:  o tradicional princípio da violência ‘necessária’, formulado pelo filósofo grego Heráclito, o princípio esperança, formulado pelo marxista alemão dissidente Ernst Boch, e o princípio não violência ativa, formulado por Helder Câmara e dolorosamente vivido por ele. Todos os textos que pretendo publicar aqui giram em torno desses três princípios. Você pode consultar qualquer texto da série independentemente do outro, mas sem nunca perder de vista esses três princípios.

 

Falar sobre a violência, numa primeira impressão, não cola com a vida concreta, a vida de cada dia. Mas isso é apenas uma impressão, que provém do fato que frequentemente não enxergamos formas de violência que influenciam diretamente nossos comportamentos

 

Por quê?  Por uma razão simples. Nas sociedades em que vivemos, as pessoas são estimuladas a não pensar. Uns tempos atrás, a TV Globo divulgou os resultados de uma pesquisa acerca das instituições mais respeitadas do Brasil. A imprensa (leia: os grandes meios de comunicação) saiu em primeiro lugar, seguida pelas ‘redes sociais’. Em terceiro lugar veio a igreja católica, seguida pelo exército. Esse resultado é sumamente inquietante, pois mostra que o público em geral não sabe nem quer saber como funciona a sociedade. As pessoas simplesmente ligam a TV para assistir à novela ou ao Jornal do Brasil. 

 

Quanto ao ensino, o quadro não é menos desolador. Percebe-se uma falta de interesse em formar pessoas que pensam, embora a escola exista para isso. Importante, hoje, é formar técnicos e funcionários a ser ulteriormente engolidos por poderosos sistemas burocráticos e executivos em troca de um salário. Muitos desses ‘engolidos’ não se dão ao trabalho de pensar de que modo funcionam as instituições que eles mesmos sustentam com seu trabalho. Basta receber o dinheiro.

 

Diante desse quadro, como posso estimular minha capacidade de pensar? Informações não me faltam, mas será que são confiáveis? A notícia do dia que aparece no meu Smartphone é confiável? Por que não largar, de vez em quando, esse Smartphone e ler um livro, ou pelo menos um texto mais elaborado, que ajude a pensar? Desse modo tenho condições de me distanciar da ‘opinião pública’, ou seja, do que ‘todos dizem’.  Enfim, um bom ponto de partida consiste em reconhecer que eu também, vez por outra, me deixo levar pela corrente e abandono minha capacidade de pensar.

 

Precisamos continuar a refletir sobre violência. Em primeiro lugar porque nosso país (estou escrevendo no Brasil) virou uma terra sem-lei nas mãos daqueles que dizem querer fazer valer as leis. Além de tomarem o Brasil num bizarro golpe, seguem plantando sementes de discórdia especialmente no que diz respeito às minorias: indígenas, afro-descendentes, negros, crianças e mulheres. Viver num país onde, de saída, a violência, inclusive sobre as leis, é descaradamente exercitada, acaba gerando um stress enorme sobre aquelas e aqueles que desejam continuar respeitando normas e efetuando melhoras coletivas, especialmente em relação às minorias. 

 

Existe também, e esse é um segundo ponto, a violência dentro de casa. Ela é rotineira e mata aos poucos, colocando veneno nos sonhos, nos planos, na estima. Trata-se de uma violência que, muitas vezes, passa desapercebida. 

 

Por tudo isso, precisamos refletir mais sobre as diferentes formas que a violência reveste, tanto na vida pública como na vida privada. Há necessidade de conversar abertamente sobre amplos e delicados contextos de violência. O tempo urge. 

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