Mística, espiritualidade e identidade pejoteira

06 de Noviembre de 2017

[Por: Emerson Sbardelotti]




Quando falamos de mística estamos nos referindo ao mistério que nos faz viver. É o mistério que comunica, é o sentido que tende a construir uma fraternura na Terra: harmonia com a Natureza, com as coisas, entre nós, com Deus. 

 

Mística: a palavra tem sua raiz na palavra mistério (mysterion – em grego – cf. Mc 4,11; 1Cor 2,1.7; Cl 1,27; Ef 1,9). O que é mística? Mística é o fio condutor, uma linha invisível que une a memória e os sonhos, que une a história e a utopia, que une o passado e o futuro e que faz do presente uma grande festa, uma grande celebração.

 

Mas qual é a pergunta crucial da Palavra de Deus? “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). É esta pergunta que está em jogo e que direciona a mística da Pastoral da Juventude e das Comunidades Eclesiais de Base. Se a gente lê o Evangelho do Moreno1 de Nazaré, Ele irá dizer isso o tempo todo: “Amar a Deus e a teu próximo”, “Pai Nosso...Pão Nosso”.

 

A ação de Deus se dá através da nossa ação. E se pode perguntar: “Deus faz milagre na história?”. Faz! Mas jamais fora das coordenadas da história!

 

Qual é o segredo da mística hoje? É uma mística libertadora, inculturada e encarnada? É muito importante voltar às fontes: A história pessoal de cada um de nós!

 

Há vários conceitos e definições a respeito de espiritualidade, pois há várias espiritualidades. A que se propõe trabalhar aqui é a espiritualidade cristã, a espiritualidade latino-americana, a espiritualidade da libertação, enfim, a espiritualidade pé no chão!

 

A palavra espiritualidade tem sua raiz na palavra espírito (a ruah – em hebraico – cf. Gn 2,7). Mas, o que é Espírito? Somos morada deste Espírito? Espírito e espírito! Há diferenças? Onde está centrada a nossa espiritualidade?

 

Está centrada e fundada em Jesus de Nazaré, encarnado, morto e ressuscitado.

Sempre recordo as palavras de Sua Santidade, o Dalai-Lama quando este diz a Leonardo Boff: “Espiritualidade é aquilo que faz no ser humano uma mudança interior”.

 

Aquilo que transforma nosso ser, nos leva a transformar a sociedade, se não o faz, não é espiritualidade, é espírito de porco!

 

A espiritualidade se caracteriza por:

1. A alteridade – conduz à vivência da espiritualidade. Muito além das fronteiras legais de um Estado, estão as pessoas humanas, os “nós” e “eles”, onde se tornam necessários o diálogo e a vivência da alteridade.

 

2. A comunidade de fé – muro de contenção. A espiritualidade é força do amor Ágape, que forma a comunidade. A comunidade se torna então um ponto de convergência, para onde convergem os iguais. A espiritualidade se identifica e se fortalece com pessoas que vivem a mesma situação de vida.

 

A espiritualidade é a raiz profunda de nossa força. A espiritualidade é beber do próprio poço!

 

A espiritualidade cristã se não estiver inserida na caminhada de libertação do povo, ao mesmo tempo que fincada na tradição bíblica e eclesial, nada será, não terá nenhuma importância.

 

Continuamos com sede. Sede de paz, sede de amor, sede de justiça, sede de fraternidade, sede de alegria, sede de respeito, diálogo e encontro. A espiritualidade vive da gratuidade e da disponibilidade.

 

A Identidade Pejoteira é caracterizada por:

 

1. Aderir à pedagogia e a prática libertadora do Moreno de Nazaré – suas opções e suas consequências; 

 

2. Envolver-se e comprometer-se numa Comunidade Eclesial de Base, nos serviços com as juventudes: equipe de cantos, adolescentes, jovens, crisma; 

 

3. Ler para conhecer e colocar em prática os documentos da Igreja: Concílio Ecumênico Vaticano II (o aggiornamento – 1962-1965), Conferência de Medellín (a libertação - juventude- 1968), Puebla (opção pelos pobres e pelos jovens - 1979), Santo Domingo (a inculturação - 1992), Aparecida (comunidades de comunidades - 2007), os documentos do CELAM sobre a juventude: Pastoral da Juventude – Sim à Civilização do Amor (1987), Civilização do Amor – Tarefa e Esperança (1995) e Civilização do Amor – Projeto e Missão (2013); o documento 85 da CNBB: Evangelização da Juventude – Desafios e Perspectivas Pastorais (2007), o estudo 76 da CNBB: Marco Referencial da Pastoral da Juventude do Brasil (1997); a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – A Alegria do Evangelho, do Papa Francisco (2013); 

 

4. Estudar a Teologia da Libertação, a Espiritualidade da Libertação a partir do viés das juventudes com o coração leve, sem se deixar levar pelo que já foi dito e o que ainda é dito de contrário, conhecer os autores e as autoras desta linha de pensamento; 

 

5. Assistir filmes e documentários a respeito da Igreja dos Pobres, Popular, da Libertação, de profetas do nosso tempo; 

 

6. Escutar as músicas que são produzidas nas CEBS, pelos artistas da caminhada (Zé Vicente, Zé Martins, Reginaldo Veloso, Socorro Lira, etc); 

 

7. Fomentar e criar as Escolas Bíblicas e Escolas Litúrgicas para jovens, incentivar a educação popular libertadora pensada e vivida por Paulo Freire e D. Helder Camara; 

 

8. Respeitar, dialogar e ir ao encontro de quem pensa diferente de você, pois pensar diferente não é não amar a Pastoral da Juventude; 

 

9. Ser ponte ao invés de muro e barreira entre os grupos de base e as instâncias, utilizando o método ver-julgar-agir

 

10. Valorizar o trabalho do/a jovem que cresce na fé e na vida, se torna militante, assume compromissos nas instâncias da PJ mas não abandona sua CEB de origem.

 

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Fontes:

 

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.

 

SBARDELOTTI, Emerson. Espiritualidad de la Liberación Juvenil. Montevideo: Ameríndia, 2014.

 

TAVARES, Emerson Sbardelotti. O Mistério e o Sopro – roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.

 

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Citas

 

 

1 Apelido carinhoso dado a Jesus de Nazaré na obra Um tal Jesus, de Maria López Vigil e José Ignacio López Vigil; Instituto Paulista de Juventude – IPJ, 2005, fascículo 1, p. 28.

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