El sentido de la vida no se ha perdido

03 de Noviembre de 2017

[Por: Leonardo Boff | Texto en español, portugués e italiano]




Quien observa el panorama brasilero bajo la óptica de la ética (toda óptica produce su ética) no deja de quedar desolado y profundamente entristecido. Un presidente no es solo portador del poder supremo de un país. El cargo posee una carga ética. Él debe testimoniar, con su vida y actos, los valores que quiere que su pueblo viva. Aquí tenemos lo contrario: un presidente tenido por corrupto, no sólo por acusación de políticos, ni siquiera por delaciones, siempre discutibles, sino por una seria investigación de la Policía Federal y de otros órganos como el Ministerio Público. 

 

Pero la desmesurada vanidad del cargo y la total falta de respeto a su propio país, se mantiene en la base de la corrupción hecha a la luz del día, comprando votos de diputados y ofreciendo otros favores. Y esos diputados, alegremente, se dejan corromper, porque muchos son corruptos y aprovechan la ocasión para conseguir funciones y otros beneficios. La república ha quedado podrida para siempre. Tenemos que volver a fundar Brasil sobre otras bases pues aquellas que lo han sostenido cojeando hasta ahora ya no consiguen sostenerlo dignamente.

 

A pesar de todo esto, no dejamos que muera la esperanza, aunque en este momento, al decir de Rubem Alves, se trata de una “esperanza agonizante”. Pero resucitará de esta agonía y nos rescatará el sentido de vivir. Si perdemos el sentido de la vida, el próximo paso podría ser el completo cinismo y, en último término, el suicidio. Quiero retomar la cuestión del sentido de la vida. 

 

A pesar de la desesperanza y de la existencia del absurdo ante el cual se rinde la propia razón, creemos en la bondad fundamental de la vida. La persona común, que somos la gran mayoría de nosotros, se levanta, pierde un precioso tiempo de su vida en los autobuses superabarrotados, va al trabajo, muchas veces duro y mal remunerado, lucha por la familia, se preocupa por la educación de sus hijos, sueña con un Brasil mejor, es capaz de gestos generosos auxiliando a un vecino más pobre y, en casos extremos, arriesga la vida para salvar a una niña inocente amenazada de violación. 

 

¿Qué se esconde detrás de estos gestos cotidianos y banales? Se esconde la confianza de que, a pesar de todo, vale la pena vivir porque la vida, en su profundidad, es buena y fue hecha para ser vivida con coraje, que produce autoestima y sentido de valor.

 

Hay aquí una sacralidad que no viene bajo un signo religioso sino bajo la perspectiva de lo ético, de vivir correctamente y de hacer lo que debe ser hecho. El gran sociólogo austríaco-norte-americano Peter Berger, fallecido hace poco, escribió un brillante libro relativizando la tesis de Max Weber sobre la secularización completa de la vida moderna con el título: Rumor de ángeles: la sociedad moderna y el descubrimiento de lo sobrenatural (Herder 1975). En él describe innumerables señales, que él llama “rumor de ángeles”, que muestran lo sagrado de la vida y el sentido que ella siempre guarda, a pesar de todo el caos y de los contrasentidos históricos.

 

Traigo aquí solo un ejemplo que me viene a la mente, banal y entendido por todas las madres que duermen a sus hijos. Uno de ellos despierta sobresaltado en medio de la noche. Tiene una pesadilla, todo está oscuro, se siente solo, y lleno de miedo grita llamando a su madre. Esta se levanta, abraza el niño a su cuello y en un gesto primordial de magna mater lo rodea de cariño y de besos, le dice cosas dulces y le susurra: “Mi niño, no tengas miedo; tu madre está aquí. Todo está en orden, no pasa nada, mi amor”. El niño deja de llorar. Recobra la confianza en la noche y poco después se duerme de nuevo, tranquilo y reconciliado con las cosas.

 

Esta escena tan común esconde algo radical que se manifiesta en la pregunta: ¿será que la madre está engañando al niño? El mundo no está en orden, ni todo está bien. Y sin embargo estamos seguros de que la madre no está engañando a su hijito. Su gesto y sus palabras revelan que, no obstante el desorden que la razón práctica percibe, impera un orden más fundamental. El conocido pensador Eric Voegelin (Order and History, 1956) mostró magistralmente que todo ser humano posee una tendencia esencial hacia el orden. Dondequiera que surja el ser humano, aparece un orden de las cosas, valores y ciertos comportamientos.

 

La tendencia hacia el orden implica la convicción de que la vida tiene sentido. Que en el fondo de la realidad, no prevalece la mentira, sino la confianza, el consuelo y la acogida final.

 

Así creemos que el tiempo de la gran desolación por causa de la corrupción que destruye el orden pasará, y volveremos a celebrar y disfrutar el sentido bueno de la existencia.

 

*Leonardo Boff es articulista del JB online y acaba de escribir Brasil: ¿Continuar la refundación o prolongar la dependencia?, que saldrá publicado en breve por la editorial Vozes.

 

[Traducción de M.ª José Gavito Milano]

 

*     *     *

 

O sentido da vida não se perdeu

 

Quem olha o panorama brasileiro sob a ótica da ética (toda ótica produz sua ética) não deixa de ficar desolado e profundamente entristecido. Um presidente não é apenas portador do poder supremo de um país. O cargo possui uma carga ética. Ele deve testemunhar, por sua vida e atos, os valores que quer que seu povo viva. Aqui temos o contrário: um presidente tido por corrupto, não só por acusação de políticos, nem sequer por delações, sempre discutíveis, mas por investigação séria da Polícia Federal e de outros órgãos como o Ministério Público. 

 

Mas a desmesurada vaidade do cargo e a total falta de respeito face ao seu próprio país, se mantem à base de corrupção feita à luz do dia, comprando votos de deputados e oferecendo outros benesses. E os deputados, gaiamente, se deixam corromper, porque muitos são corruptos, aproveitam a ocasião para conquistar funções e outros benefícios. A república apodreceu de vez. Temos que refundar o Brasil sobre outras bases pois aquelas que até agora mancamente o sustentaram já não conseguem dar-lhe digna sustentabilidade.

 

A despeito disso tudo, não deixamos a esperança morrer, embora nesse momento, no dizer de Rubem Alves, se trata de uma “esperança agonizante”. Mas ela ressuscitará desta agonia e nos resgatará um sentido de viver. Se perdermos o sentido da vida, o próximo passo poderá ser o completo cinismo e, no termo, o suicídio. Quero retomar a questão do sentido da vida.

 

Não obstante a desesperança e a existência do absurdo face ao qual a própria razão se rende, acreditamos ainda na bondade fundamental da vida. O homem comum que somos a grande maioria, se levanta, perde precioso tempo de vida nos ônibus super lotados, vai ao trabalho, não raro penoso e mal remunerado, luta pela família, se preocupa com a educação de seus filhos, sonha com um Brasil melhor, é capaz de gestos generosos auxiliando um vizinho mais pobre que ele e, em casos extremos, arrisca a vida, para salvar uma inocente menina ameaçada de estupro. 

 

O que se esconde atrás destes gestos cotidianos e banais? Esconde-se a confiança de que, apesar de tudo, vale a pena viver porque a vida, na sua profundidade, é boa e foi feita para ser levada com coragem que produz auto-estima e sentido de valor.

 

Há aqui uma sacralidade que não vem sob o signo religioso mas sob a perspectiva do ético, do viver corretamente e do fazer o que deve ser feito.  O grande sociólogo austríaco-norte-americano Peter Berger, há pouco falecido, escreveu um brilhante livro, relativizando a tese de Max Weber sobre a secularização completa da vida moderna com o título: Um rumor de anjos: a sociedade moderna e a redescoberta do sobrenatural (Vozes, 1973). Aí descreve inúmeros sinais (chama de “rumor de anjos”) que mostram o sagrado da vida e o sentido que ela sempre guarda, a despeito de todo caos e dos contrasensos históricos.

 

Trabalho apenas um exemplo que me vem à mente, banal e entendido por todas as mães que acalentam seus filhos. Um deles acorda sobressaltado dentro da noite. Teve um pesadelo, percebe a escuridão, sente-se só e é tomado pelo medo. Grita pela mãe. Esta se levanta, toma o filhinho no colo e no gesto primordial da magna mater cerca-o de carinho e de beijos, fala-lhe coisas doces e lhe sussurra: “Meu filhinho, não tenhas medo; sua mãe está aqui. Está tudo bem e está tudo em ordem, meu querido”. O menino deixa de soluçar. Reconquista a confiança da noite e um pouco mais e mais um pouco, adormece, serenado e reconciliado com as coisas.

 

Esta cena tão comum, esconde algo radical que se manifesta na pergunta: será que a mãe não está enganando a criança? O mundo não está em ordem, nem tudo está bem. E contudo, estamos certos: a mãe não está enganando seu filhinho. Seu gesto e palavras revelam que, não obstante a desordem que a razão prática aponta, impera uma ordem mais fundamental. O conhecido pensador Eric Voegelin (Order and History, 1956) mostrou magistralmente que todo ser humano possui uma tendência essencial para a ordem. Onde quer que surja o ser humano, aí aparece uma ordem das coisas, valores e  certos comportamentos.

 

A tendência para a ordem implica a convicção de que a vida possui sentido. Que no fundo da realidade, não vigora a mentira, mas a confiança, o consolo e o derradeiro aconchego.

 

Assim cremos que o tempo da grande desolação por causa corrupção que destroi a ordem, voltaremos a celebrar e desfrutar o sentido bom da existência.

 

Leonardo Boff é articulista do JB on line e acaba de escrever: “Brasil: continuar a refundação ou prolongar a dependência?” a sair pela Vozes brevemente.

 

*     *     *

 

Il senso della vita non e' andato perduto

 

Chi osserva il panorama brasiliano alla luce di una prospettiva etica (ogni ottica produce la sua etica) non può non rimanere desolato e profondamente rattristato. Un presidente non è soltanto il portatore del potere supremo di un paese. La carica che occupa possiede una carica etica. Lui deve testimoniare, con la sua vita e la sua condotta, i valori che pretende dal suo popolo. Qui abbiamo il contrario: un presidente giudicato corrotto, non da accuse di politici, e neanche da delazioni, sempre discutibili, ma da accurate indagini della Polizia Federale e di altri organi come il Pubblico Ministero. 

 

Ma la smisurata vanità della carica e l’assenza totale di rispetto davanti al proprio paese rimane alla base della corruzione fatta alla luce del sole, comprando voti di deputati e offrendo altri benefit. E i deputati, gaiamente, si lasciano corrompere, dato che molti sono corrotti, approfittano delle occasioni, per conquistare incarichi e altri benefici. La Repubblica si è incancrenita interamente. Dobbiamo rifondare il Brasile sopra altre basi, dato che quelle che finora lo hanno sostenuto malamente, ormai non riescono a darle degna sostenibilità.

 

A dispetto di tutto questo, non lasciamo morire la speranza, anche se in questo momento, come dice Rubem Alves, si tratta di una “speranza agonizzante”. Ma risusciterà e dopo questa agonia ci riscatterà un senso di vivere. Se perdiamo il sensodella vita, il prossimo passo, potrebbe essere il cinismo completo, o addirittura il suicidio. Ritorniamo al problema del senso della vita.

 

Nonostante la disperazione e l’esistenza dell’assurdo davanti al quale la stessa ragione si arrende, crediamo ancora nella bontà fondamentale della vita. L’uomo comune, (noi che siamo la grande maggioranza) si alza, perde tempo prezioso della vita negli autobus strapieni, va al lavoro, non raramente penoso e mal remunerato, lotta per la famiglia, si preoccupa dell’educazione dei suoi figli, sogna un Brasile migliore, è capace di gesti generosi, aiutando un vicino più povero di lui, in casi estremi rischia la vita, per salvare una bambina innocente minacciata di stupro. 

 

Che cosa si nasconde dietro a questi gesti quotidiani e banali? Si nasconde la fiducia che nonostante tutto vale la pena vivere perché la vita, nel suo profondo è buona ed è stata fatta per essere vissuta con coraggio, che produce autostima e senso di valore.  

 

C’è una sacralità che proviene non da un simbolo religioso ma sotto la prospettiva dell’etica, per vivere correttamente e di fare quel che deve essere fatto. Il grande sociologo austriaco-nordamericano, Peter Berger, da poco scomparso, ha scritto un brillante libro relativizzando la tesi di Max Weber sulla secolarizzazione completa della vita moderna col titolo ll brusio degli angeli. Il sacro nella società contemporánea (Mulino 21995). dove descrive innumerevoli segnali ( che lui chiama “rumore di angeli”) che mostrano il sacro della vita il senso che essa custodisce, a dispetto di tutto il caos e dei controsensi storici.

 

Sviluppo solo un esempio che mi viene in mente, banale ma compreso da tutte le mamme che allevano figli con grazia e dolcezza. Uno di questi si sveglia di soprassalto in piena notte. Ha avuto un incubo, percepisce l’oscurità si sente solo e preso da paura. Con un grido chiama la mamma. Lei si alza, prende il bambino tra le braccia e in questo gesto primordiale della magna mater lo circonda di carezze e baci. Gli dice parole dolci e gli sussurra: “bambino mio, non aver paura, la tua mamma è qui. Tutto a posto, tutto è in ordine, mio caro”. Il bambino smette di piangere. Riprende la fiducia anche se è buio e un poco alla volta, si addormenta rasserenato e riconciliato con le cose.

 

Questa scena tanto comune nasconde qualcosa di profondo che appare nella domanda: la mamma sta ingannando il bambino? Il mondo non è in ordine, le cose non sono tutte a posto. E nono stante questo stiamo certi che nono stante il disordine che la ragione pratica indica, rimane al comando un ordine suo fondamentale. Il noto pensatore Eric Voegelin (Order and History, 1956) ha mostrato magistralmente che ogni essere umano possiede una tendenza essenziale all’ordine. In qualunque posto dove nasce un essere umano, lì appare un ordine delle cose, di valori e di specifici comportamenti. 

 

La tendenza all’ordine implica convinzioni che la vita ha senso. Che in fondo alla realtà non impera la menzogna, ma la fiducia, il conforto e l’ultima accoglienza.

 

Così noi crediamo che il tempo della grande desolazione a causa della corruzione che distrugge l’ordine, torneremo a celebrare e a sfruttare il senso buono dell’esistenza.

 

Leonardo.Boff ha scritto: Continuare la rifondazione o prolungare la dipendenza? Uscirà tra breve per i tipi della Vozes.

 

 

[Traduzione di Romano Baraglia e Lidia Arato].

Procesar Pago
Compartir

debugger
0
0

CONTACTO

©2017 Amerindia - Todos los derechos reservados.