27 de Octubre de 2017
[Por: Marcelo Barros]
Durante o encontro de teólogos e teólogas da Amerindia em Puebla, no México, por acaso, acolhi na porta da casa quando estava chegando um dos mais conhecidos teólogos da Espanha: Juan José Tamayo, presidente da Associação de Teólogos João XXIII de Madri.
Quando me viu, ele me cumprimentou dizendo: “Marcelo, quando te vejo, sinto que estou encontrando Dom Helder Camara, reencarnado e atualizado”. Fiquei com certa vergonha e medo da comparação. Vergonha porque tenho consciência de ainda não chegar nem perto do que foi Dom Helder e, portanto, não mereço isso. Certamente, ele diz isso por não conhecer de perto minhas contradições e fraquezas. Como ainda sou acomodado. Além disso, Dom Helder era uma pessoa que parecia ter sempre a iluminação do Espírito. Dizia sempre as coisas mais justas e via com clareza o caminho. Eu? As vezes não vejo nada claro e nem sei o que dizer.
Então é claro que a comparação é forçada e irreal. Mas, assim mesmo como na Bíblia, Deus chama os profetas através de histórias assim e de vez em quando meio ambíguas, acolho essa palavra de Juan Jose Tamayo como um chamado, um apelo, uma indicação de caminho a seguir. E aí sinto certo medo pela responsabilidade que essa vocação acarreta. Mas, respondi: Eu não sou eu e sim um grupo de irmãos e amigos que podem dizer: sim somos juntos a presença e a continuidade da ação de Dom Helder Camara na luta do nosso povo por sua libertação integral e pelo crescimento interior e espiritual de cada um/uma de nós nesse caminho... Mas, como afirmar isso sem perguntar a vocês que me seguem nesse blog e se sentem ligados a esse caminho se assumem comigo esse compromisso de amor?
Talvez alguém pergunte porque toco nesse assunto aqui. Espero que ninguém pense que faço isso para espalhar entre vocês um elogio que recebi. De modo algum, até porque não o vejo como elogio e sim como reprimenda (como disse: ainda não me sinto totalmente fiel a essa vocação) e como apelo profético.
Conto isso aqui porque em um dia como hoje, creio que ainda na década de 50, ainda no Rio, Dom Helder reunia um grupo de leigos e leigas e propunha a eles um Pacto da Alegria e de atualizar os caminhos de São Francisco de Assis na simplicidade de vida, na proximidade dos pobres e na alegria do evangelho como compromisso de amor. Mais tarde, já em 1968, ele propunha grupos assim como “Minorias Abraâmicas”, células de esperança em meio a esse mundo de dor. Será que conseguiríamos hoje, sem cair em nenhuma tentação de instituição (não se trata de fundar nada) organizar assim a esperança e o compromisso da alegria evangélica em meio à luta?
Com todo respeito pela vida religiosa hoje instituída nas ordens e congregações, me sinto chamado a animar esses pequenos grupos soltos pelo mundo e que queiram celebrar a vida, a amizade e o compromisso de luta pacífica de libertação aqui e ali. Tenho dado prioridade a isso.
Acompanho alguns grupos, como, em Recife, o grupo Fé e Política Dom Helder Camara e o Grupo da Partilha que se reúne na Igreja das Fronteiras onde viveu Dom Helder. Tento acompanhar e animar um grupo de amigos e irmãos/ãs que se reúnem mais ou menos de dois em meses em Brasília. Sinto-me ligado aos grupos da Fraternidade da Anunciação em Goiás, em Passo Fundo, Belo Horizonte, e em outros lugares, mesmo grupos que não consigo acompanhar pessoalmente mas me sinto ligado.
Como seria bom vê-los articulados e mutuamente se animando na fé e no compromisso com os mais pobres. Aí sim poderemos todos dizer juntos: somos todos Dom Helder e nos comprometemos a continuar a sua profecia nesse mundo e nas Igrejas cristãs.
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