Vinho e vinagre na alegria do Evangelho - Paulo Suess
[Paulo Suess]
Vinho e vinagre na alegria do Evangelho
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Exortação apostólica do Papa Francisco –Um vade-mécum
sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual
Paulo Suess
Depois de uma longa fase depressiva do tempo pós-conciliar da Igreja católica, com a Exortação Apostólica “A alegria do Evangelho” (Evangelii gaudium, 24.11.2013) do Papa Francisco voltou a reflexão sobre a “alegria” como desejo de reforma,pressuposto de conversão e autocrítica (cf. EG 14), como convite não somente a “todos os que invocam o nome de Cristo”, mas, segundo a Constituição Pastoral “Gaudium et spes”, a toda a humanidade (cf. GS 2). Parecia que a ponte entre o Concílio Vaticano II e a Igreja de hoje não suportava mais os caminhões pesados da realidade contemporânea. Novos caminhos desatualizaram os mapas de motoristas experientes.
Em sua Exortação, o Papa Francisco se dirige aos motoristas desses caminhões. Sem muitos rodeios, procura lhes dizer que o perigo não está no caminho ou na ponte, mas nos motoristas desabilitados. Estes percorrem as paisagens pastorais com excesso de velocidade ou com lentidão sem rumo. Francisco pergunta a cada um de seus agentes de pastoral: Com sua carteira de motorista vencida, seu exame de vista caducado e o mapa de estradas desatualizado –como você pode passar a ponte para o mundo de hoje?Com “A alegria do Evangelho”, Francisco oferece a todos nós um manual de motorista atualizado – um vade-mécum pastoral em chave missionária sobre mudanças necessárias e possíveis.Contudo, nem todas as estradas novas constam nesse mapa. Uma vez que Francisco não tem o poder de um príncipe renascentista, nem tudo que seria necessário mudar ele vai poder transformar. A gerontocracia eclesial, por exemplo, é uma questão cultural e a transformação de cristalizações culturais são transformações que levam muito tempo. Enfaticamente, o Papa Francisco afirma: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação” (EG 27). O sonho antecipa realidades possíveis. Acontece que muitos dos próprios irmãos do Papa sonhador, que têm medo dessa nova realidade na qual o poder lhes será tirado,já pensam em como livrar-se do sonhador e buscam a cisterna mais próxima (cf. Gn 37).
Depois de uma contextualização concisa do documento,procuroatravés de sete núcleos interligadossistematizar a apostila missionária de Francisco. Ela nos dá os contornos pastorais de seu pontificado em forma de uma Exortação, às vezes, elementar e revolucionária outras vezes prolixa e tradicional, contudo sempre oferecendo algo do frescor da nossa alma latino-americana ao mundo.