Monoteismo e violência (1)

09 de Febrero de 2018

[Por: Eduardo Hoornaert]




Aos que me acompanham nessa série sobre ‘cristianismo e violência’, sempre em relação ao princípio cristão da não-violência ativa, lembro que o tema permite os mais variados desdobramentos. Pois, nas sociedades em que vivemos, a violência assume as mais variadas formas: violência tecnológica, econômica, política, social, cultural, religiosa, puritana, machista, racial, sexista, monoteísta, eclesiástica, colonialista, patrimonialista, fascista, classista etc. Cada uma dessas formas tem de ser confrontada com o princípio da não-violência ativa, para que se tirem conclusões práticas. Eis o sentido desta série e espero que ela permite um diálogo fértil entre nós. 

 

Não raramente, as religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo) são criticadas por serem supostamente violentas. A jovem historiadora norte-americana Catherine Nixey lançou recentemente um livro, intitulado ‘The darkening Age: the Christian Destruction of the Classical World’, em que ela tira o véu de uma história pouco conhecida, mas fartamente documentada, de um cristianismo nascente que deliberadamente teria atacado e suprimido os ensinamentos do mundo clássico, inaugurando séculos de adesão inquestionável a ‘uma verdadeira fé’. O livro convence. Apesar da ideia de longa data de que os primeiros cristãos teriam sido mansos e indefesos, indo para a morte cantando hinos de amor e louvor, a verdade, revela Catherine Nixey, é muito diferente. Esses primeiros cristãos, longe de serem mansos e suaves, eram violentos, implacáveis e fundamentalmente intolerantes. Contra os ditames das religiões politeístas, em que a adição de uma nova religião não fazia a diferença, a nova ideologia cristã não só afirmou que era ‘o caminho, a verdade e a luz’, mas que as formas religiosas anteriores estavam erradas e tinham de ser destruídas. Do século I a VI, quem não entrasse em acordo com as novas crenças cristãs, era considerado herético e, por conseguinte, perseguido de todas as formas possíveis, tanto no plano social, como no legal, financeiro e mesmo físico. Altares foram destruídos, templos derrubados, estátuas despedaçadas. Muitos sacerdotes morreram. Foi uma aniquilação.

O que fazer diante de um requisitório como esse, fundamentado em fontes históricas autênticas?  Em vez de contestar o que Catherine Nixey escreve de forma absolutamente convincente, há de se refletir sobre a relação entre monoteísmo e violência e colocar algumas questões incômodas. É verdade que a adoração de um só Deus implica em fomentar uma atitude hostil diante dos que adoram ‘outros’ Deuses? Uma postura violenta seria endêmica às três religiões bíblicas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo? Para discutir esse tema, convido você a fazer comigo dois passos: 

 

(1) investigar as propostas originais dos quatro principais mensageiros principais do monoteísmo (Abraão, Moisés, Jesus e Maomé); 

 

(2) estudar a acolhida que essas propostas tiveram concretamente, ao longo dos tempos, tanto entre judeus como entre cristãos e islamitas. 

 

É o que proponho fazer nos dois textos seguintes desta série.

Imagem: http://www.seguridadinternacional.es/sites/default/files/styles/large/public/field/image/religion5.jpg

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