A oração como terapia

21 de Diciembre de 2017

[Por: José Neivaldo de Souza]




Hoje, pela manhã, acordei e contemplei o céu. Eu poderia ter olhado para cima, para o alto, para as nuvens, para o infinito. Mas, decidi olhar para o céu. O meu céu, o lugar do mistério, por mais que todos os conhecimentos apontem para um espaço infinito em expansão ou um buraco negro com fim de todas as coisas.

 

Hoje decidi contemplar o céu. Lembrei do amigo Rubem Alves e perguntei à minha alma se ele ganhara o céu. A resposta me veio dele mesmo: o céu são espaços invisíveis onde mora nossa alma: “por entre eles ela voa, pela magia do desejo, acendendo arco-íris e fantasias, ligando as coisas soltas e distantes. Às vezes, transformando tudo em poemas, outras vezes, em tapeçarias, ou arranjando tudo à moda de canções”. Decidi, por meu desejo, que ele está lá, reencontrando-se com as coisas que amou.

 

Ao contemplar o meu céu, já que há muitos céus, no meu silêncio, perguntei se era possível influenciar aquele que está além da eternidade. A resposta foi negativa, pois acreditar em Deus é um ato de humidade e, o mais importante, na relação com ele, como bem escreveu o filósofo Sören Kierkegaard, é que a minha natureza seja transformada. Sem pretensão de reformar o mundo e as pessoas, que eu tenha a serenidade de lidar com aquilo que quero mudar, mas não consigo.   

 

A minha oração, ao estilo de um sábio chinês, é essa: “Senhor, a começar por mim, que a minha vida seja reflexo do seu amor” e que a minha coragem de enfrentar as diversidades da existência não seja sinal de desânimo para as pessoas que convivem comigo. É isso, quero que minha oração surja da humildade, pois sei que, de outra forma, não há necessidade dela. Concordo com Martinho Lutero: muitas vezes a oração é o único lugar para onde podemos fugir. 

 

Se minha oração não surgir da humildade, e de um coração aberto, creio que não terei acesso ao céu, apesar da certeza de que minha salvação independe de meus esforços morais ou religiosos. Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe, diria que a oração não é para que tenhamos resposta, pois ela não é uma moeda de troca e nem implica o mercado. A oração, sem pretensão de interesses, iguala fortes e fracos; não é para obter riqueza ou saúde, mas para um amor divino que se expande a toda criatura.

 

A oração é para que o mistério seja contemplado e possamos enxergar, neste tempo que se chama hoje, a beleza da criação e o amor do criador. Neste sentido, tanto a pessoa feliz, quanto a desgraçada, podem ter acesso a esta sublime comunicação. São Paulo sabia disso. Seu clamor à comunidade Tessalônica expressava esta certeza: “Alegrai-vos sempre. Orai sem cessar” (1Ts 5,16-17).

 

Volto a insistir, e quem sabe talvez seja uma forma de me convencer e espantar meus demônios: a verdadeira oração não incentiva ou insufla a dominação de poucos contra muitos; de uns sobre os outros. O grande revolucionário indiano, Mahatma Gandhi, observando a oração do dominador, dizia que ela de nada serve se não for para alcançar a paz: “a mais alta qualidade da oração é a não-violência”. Renunciar a tudo que leva à violência já é uma oração e nos ajuda a contemplar um novo céu e uma nova terra. 

 

Neste dia, na expectativa de celebrar o natal do Senhor, minha oração é simples:

 

Que minha estrada, apesar de longa, me leve ao lugar que o Senhor nos preparou a fim de gozar da sua bem-aventurança. 

Que o meu trabalho, com todas as dificuldades que encontro em realizá-lo, a exemplo de sua obra, seja digno e sem prejuízos a quem quer que seja. 

Que eu, livre de qualquer forma de preconceito, seja virtuoso e não me afaste daqueles que prezam pela justiça e boas obras. 

Que a ira não faça morada em meu coração e que eu percorra o caminho da prudência e da serenidade.

Que os meus olhos não olhem para trás, a fim de enxergar os meus graves pecados, mas me direcionem ao céu e me ajudem a ver um mundo novo prestes a se descortinar à minha frente. 

 

 

Imagem: http://www.medicinabiointegral.cl/wp-content/uploads/2015/02/78531344.jpg 

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